These are some writing assignments I did over the years! Some I'm particularly proud of, others not so much... but I wanted to keep them all somewhere. I hope you enjoy! (at least the creative ones lmao)

O curador de si — short story; 2023; Portuguese

O curador respirou fundo e passou as mãos pelo cabelo. Era o dia em que sua nova sala de exposição, repleta de artefatos pré-históricos, seria aberta ao público do museu. Ferramentas de pedra, miçangas de concha, flechas de sílex e ossos decorados haviam sido escrupulosamente estudados, catalogados e dispostos em longas prateleiras, sempre acompanhados por textos explicativos. Todos os detalhes haviam sido meticulosamente pensados para melhor expressar a humanidade das pessoas que usaram esses objetos milhares de anos atrás. Afinal, era exatamente por isso que o curador escolhera esse ofício.

Todo artefato conta uma história! Aquela flecha ali protegera um avô de uma fera, e aquela miçanga lá alegrara o dia de uma criança. Cada fragmento de pedra fora manuseado por alguém, um alguém que continha infinidades dentro de si e tinha inúmeras histórias para contar. Cada objeto prova que essas pessoas existiam... sim, isso pode parecer bobo, mas o curador nunca deixava de ficar deslumbrado. Ele gostava de imaginar quem eram essas pessoas e pensar sobre tudo que tinham em comum com ele, aquele algo especial que une os humanos separados pelos milênios. Tentando expressar esse algo nos textos da exibição, o curador não conseguia impedir que seu arrebatamento transparecesse e, por mais que isso não fosse ideal em um ambiente acadêmico, ele era simplesmente incapaz de se exprimir com frieza sobre esse assunto.

A exibição irradiava maravilhamento e devoção à humanidade, algo tão pessoal para o curador que a sala de exposição poderia ser uma grande instalação de autorretratos se estivesse em um museu de arte. Conforme a hora da abertura se aproximava, ele ficava cada vez mais esperançoso de que a humanidade tanto nos pré-históricos quanto nele mesmo seria reconhecida.

Quando finalmente chegou o horário da abertura, pouquíssima gente apareceu. Ninguém se demorou na sala, ninguém olhou duas vezes para os artefatos, ninguém tentou ler os textos. O curador havia se esquecido de que o humano pode se perder na infinidade dentro de si e esquecer de olhar para fora.

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O segundo botão — poetic prose; 2023; Portuguese

Viveiro de galinhas, alta costura; eu tão pequena em um mundo tão grande... Uma engrenagem deve ter muitos dentes para integrar um mecanismo intricado, mas como posso eu ter todas as partezinhas delicadas necessárias? Não posso ser complexa ou é que eu não devo?

Não há motivo para eu não poder. Existe um universo dentro de todos nós. A luva perdida de uma criança já é capaz de contar uma história. E por que não deveria? Por que acham que a infinidade dentro de mim é surpreendente? Pois não deveriam.

Não, eu não sou pequena. Sou complicada, e daí?

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On extreme acts of protest — open letter; 2024; English

Dear media outlets,

On Sunday, February 25th, the world watched in shock as Aaron Bushnell, active duty U.S. airman, live-streamed his self-immolation in front of the Israeli Embassy in Washington, D.C. He shouted “Free Palestine” until his last breath, giving his life to protest the genocide Israel is carrying out against the Palestinian people. Undeniably, Aaron Bushnell's self-immolation rightfully occupies its spot as one of the most talked- about issues of the present... at least for now, since you all have been doing everything in your power to discredit his act of protest. Your desperate digging for his possible mental health issues isn't at all subtle — we can see that you are attempting to make his a story of tragedy rather than a story of resistance, which is an insult to his legacy. Thus, I urge every media company reporting on this to listen to what I have to say.

First off, implying that giving your life to a cause is senseless is objectively wrong. Throughout history, people have sacrificed various things — from health to love to their own lives — for something bigger than themselves, be it a career, a religion, or a political cause. It all comes down to what you value most: your life or your beliefs, and neither option is better than the other (before you disagree, let's just remember that Aaron was a soldier, yet I don't see any of you calling the U.S. military ludicrous). On account of this, it's plain to see that you are only condemning self-sacrifice to support Israel, a laughably noticeable display of intellectual dishonesty.

Furthermore, suggesting that Aaron's actions were just the last rash decisions of an insane extremist is not only incredibly mentalist and disrespectful but also plainly incorrect — in fact, they were highly calculated. He carefully crafted a powerful message: our ruling classes have decided that the death and suffering of marginalized people are normal, so he, a white American (the only valuable kind of person to them), chose to burn (just like thousands of "unimportant" Palestinians did), showing us just how rotten their mentality is; hence, if even the most privileged among us disagrees with our ruling class to the point of self-sacrifice, should we really keep allowing them to choose who lives or dies?

To wrap things up, I’d like to remind all media outlets that you depend on your readership to continue existing, so if you insist on continuing to publish bigoted and dishonest content, you will lose your precious subscriptions and ad revenue. Moreover (and more importantly), remember that the world stands with Palestine. Unlike how you did Aaron Bushnell’s, we will do your legacies justice.

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A Verdade Infinita — philosophy essay; 2024; Portuguese

Muitos filósofos ao longo da história questionaram sobre se o que conheciam era, de fato, absolutamente verdadeiro, ou se percebiam apenas verdades transitórias, isto é, teorias que, por um certo período de tempo, são aceitas como condizentes com a realidade. Com efeito, não é possível conhecer a Verdade absoluta, pois ela é infinita, logo que outro nome para a Verdade seria Infinito. Contudo, o homem tem acesso a reflexos imperfeitos dessa Verdade, o que permite que ele compreenda o mundo o suficiente para estabelecer parâmetros lógicos dentro de um certo contexto, porém inexatos se comparados ao Infinito.

Tudo que existe é infinitamente complexo. Esta afirmação pode ser comprovada analisando qualquer coisa: um ser vivo é infinito "para dentro" (organismos são compostos por células, compostas por moléculas, compostas por átomos, compostos por prótons, elétrons e nêutrons, compostos por quarks...) e "para fora" (seres compõem populações, que compõem comunidades, que compõem ecossistemas...); um ser inanimado é infinito "para dentro" (composto por compostos químicos infinitamente divisíveis) e "para fora" (se for natural, compõe um ecossistema; se for produzido pelo homem, compõe alguma cadeia de produção e conecta-se a complexas relações sociais); uma ideia imaterial é infinita "para dentro" (provém da mente infinitamente complexa de alguém, que é informada por condições sociais também infinitamente complexas) e "para fora" (pode desencadear uma cadeia de acontecimentos e relacionar-se com outras ideias imateriais). Essa imensidade pode ser contraposta às limitações da cognição humana: o cansaço gera confusão; a memória pode falhar. Por conseguinte, como todas as coisas podem ser reduzidas, aumentadas e interligadas infinitamente e a mente humana é incapaz de compreendê-las em sua totalidade, conclui-se que não é possível conhecer a Verdade absoluta.

Entretanto, não saber tudo não significa não saber nada — existem parâmetros lógicos capazes de explicar como o mundo funciona dentro de certos contextos. Por exemplo, a física newtoniana é uma forma comum de interpretar os fenômenos da natureza, mas não é a única, pois a física moderna oferece outros modelos para compreendê-la. Essa variedade de paradigmas válidos indica que o homem tem acesso a reflexos imperfeitos da Verdade os quais permitem que ele crie as verdades transitórias: teorias verossímeis, porém não verdadeiras. Esses reflexos, imaginando o Infinito como um espectro, provêm apenas dos arredores imediatos da posição que o ser humano nele ocupa, de modo que o homem não é capaz de acessar o resto da Verdade; isso pode ser comprovado pelo fato de que não se sabe o que existe além do Universo. A propósito, a ideia de que o homem só tem acesso a reflexos imperfeitos de parte da Verdade pode ser relacionada à Teoria das Ideias de Platão (428 a.C.–348 a.C). Ele propunha que apenas pelo uso da razão o homem seria capaz de compreender a essência das coisas, ou seja, as Ideias, e que, por meio dos sentidos, só enxergaria suas cópias imperfeitas. A proposição do presente texto é similar, exceto pelo fato de que não diferencia a razão dos sentidos e considera-os ambos falhos, de modo que o humano nunca seria capaz de sequer vislumbrar as Ideias ou o Infinito.

Em suma, o homem não é capaz de conhecer a Verdade absoluta, pois ela é infinita. Porém, consegue discernir reflexos imperfeitos de parte dela, de modo que cria verdades transitórias, as quais fazem sentido lógico mas não explicam o Infinito em sua totalidade.

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"The Bishop in the Presence of an Unknown Light" — literary analysis; 2023; English

Les Misérables, Victor Hugo's most acclaimed novel, delves into several problems that afflicted 19th-century French society, such as ignorance, poverty, and prejudice, while exalting the power of love and compassion. Since the book's events involve a vast ensemble cast, some earlier storylines are consigned to oblivion. Among them stands out the story of the kindly Bishop Charles-François-Bienvenu Myriel, referred to as Monseigneur Bienvenu or Bishop Myriel, which contains one of the best chapters in the entire novel – "The Bishop in the Presence of an Unknown Light."

The chapter narrates the political and philosophical discussion between Myriel and a character named G–, a former member of the National Convention (the regime that governed Revolutionary France from 1792 to 1795). Because the conventionist was nearing his death, the bishop had to fulfill his episcopal duty of visiting him to allow him to confess himself and find inner peace before passing away. However, Myriel was a monarchist and had had distressing experiences with the French Revolution by virtue of being from an aristocratic family that had fled France to escape persecution. Hence, despite his ordinarily charitable and gentle nature, the bishop treated G– callously, incessantly questioning him about contemptible aspects of the Revolution. In turn, the conventionist displayed incredible lucidity while defending it and pointed out several contradictions in the clergyman's beliefs.

G– expressed that, participating in the Revolution, he had helped to vanquish the Ancien Regime's demerits, as he said in the quote: "I have aided in the overthrow of prejudices and errors. The crumbling away of prejudices and errors causes light. We have caused the fall of the old world, and the old world, that vase of miserie , has become, through its upsetting upon the human race, an urn of joy". When questioned about the Revolution's wrath and violence, he compared it to a thunderbolt that had been waiting to burst for all of the 1500 years of monarchical rule in France – just as a thunderbolt cannot be blamed for striking the land, people cannot be expected to suffer through centuries of oppression and brutality without lashing out eventually. Moreover, he affirmed that the people's anger had powered progres , which he associated with fraternity, serenity, and happiness. The conventionist's opinion on progress mirrors Hugo's, who believed that "Progress advances; it makes the great human and terrestrial journey towards the celestial and the divine."

In addition to asserting the book's pro-French Revolution stance, the chapter stresses the bishop's contradictory beliefs. For instance, Myriel insisted that people should exercise empathy towards everyone equally. Nonetheless, he gave more thought to, for example, the abuse Louis XVII (the executed king's young son) allegedly suffered than the hardships millions of poor children went through. The bishop normalized their misery because he came from an aristocratic background and, consequently, subconsciously believed that royal lives were more important than peasant ones. What he should have been doing, according to G–, was intentionally directing his empathy toward the underprivileged and examining his beliefs to avoid being hypocritical, because otherwise, he would intuitively contradict himself by favoring the people at the top of the social pyramid.

The chapter ends with the conventionist's death and a reflection on how this discussion altered Myriel's worldview. Even though he did not become a supporter of the Revolution or begin to take an interest in politics, the bishop started noticing the prejudiced undertones of the conversations within his social circle and calling them out. This shows the importance of acknowledging how one's upbringing and privileges can affect their perspective in order to exercise critical thinking, a lesson many people could use nowadays. The fact that the bishop's mistakes can still be learned from proves that Les Misérables has remained relevant to this day and, therefore, is absolutely worth reading.